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CÁLCULO DE IMPRODUTIVIDADE: UMA ANÁLISE PRÁTICA COM O MÉTODO MEASURED MILE EM PROJETOS DE ENGENHARIA

INTRODUÇÃO

 

A improdutividade de recursos é uma patologia recorrente em contratos de engenharia que resulta no aumento dos custos operacionais e prejudica a aderência dos projetos ao planejamento proposto. Diversos eventos podem ser responsáveis pela perda da capacidade produtiva dos recursos, podendo ser de responsabilidade exclusiva de uma das partes do contrato ou de causa compartilhada.

A promoção da aceleração das atividades, condições meteorológicas adversas, retrabalhos, aglomeração de recursos, quebra da sequência executiva e falhas de engenharia são alguns dos fatores que prejudicam a produtividade. Na Prática Recomendada 25R-03 da AACE Internacional, são apresentadas 25 causas comuns para esse tipo de patologia em contratos, sobretudo na construção civil.

Uma consequência direta e imediata da perda da capacidade produtiva é o aumento do custo para a realização das atividades. Se antes era necessário o aporte de 1 hora de um referido recurso para realizar uma quantidade específica de determinada atividade, com a perda de produtividade, esse tempo se eleva, resultando em um aumento do custo unitário da atividade.

Para determinar esse custo adicional decorrente da improdutividade, existem diversas metodologias amplamente utilizadas na engenharia de custos, como a Análise de Valor Agregado, Measured Mile ou Total Cost, todas abordadas na citada Prática Recomendada 25R-03 da AACE Internacional. Neste artigo, será apresentado de forma prática como utilizar a metodologia “Measured Mile” para esse cálculo.

O MEASURED MILE

 

O MCAA em “Change Orders Productivity Overtime” define o Measured Miles como um método comparativo entre “a produtividade atual em um período ou área impactada com um período ou área não impactada (ou menos impactada), a fim de estabelecer a taxa de produtividade ‘natural’ nos períodos ou áreas impactadas.”.

A comparação entre a produtividade não impactada e a impactada pode ser realizada por meio de uma observação temporal, comparando a produtividade de determinada atividade em períodos distintos do projeto, ou através de uma observação local, comparando a produtividade entre diferentes áreas do projeto. Além disso, para um cálculo efetivo, as atividades a serem analisadas devem ser iguais ou pelo menos de natureza semelhante.

Schwartzkopf, em “Calculating Lost Labor Productivity in Construction,” ressalta que “o cálculo Measured Mile é preferido porque considera apenas o efeito real do impacto alegado, eliminando disputas a respeito da validade de estimativas de custos ou de fatores que possam ter afetado a produtividade sem culpa da Contratante.”[1] Diferentemente de outras análises que calculam toda a improdutividade percebida em comparação com uma baseline proposta, que engloba inclusive ineficiências do próprio empreiteiro, o Measured Mile elimina toda a responsabilidade do contratado, já que sua base de comparação é uma produtividade já alcançada no projeto pelo executor.

UM EXEMPLO PRÁTICO

 

Imagine que a Empresa A foi contratada pela Empresa B para a realização de uma ferrovia (montagem de grade) que ligaria a estaca 0 à estaca 20, perfazendo 20 quilômetros de grade a serem executadas. Dentro das responsabilidades contratuais da CONTRATANTE (Empresa B), havia a premissa de que toda a infraestrutura necessária para o início da montagem da grade estaria pronta, com as áreas completamente desimpedidas para o ataque da CONTRATADA (Empresa A).

Para a realização das atividades, a Empresa A mobilizou a seguinte equipe de recursos diretos: 01 encarregado, 01 escavadeira com operador, 02 ajudantes e 01 caminhão Munck com motorista. A previsão para a finalização das atividades era de 50 dias úteis (10 semanas), desconsiderando o período de mobilização e desmobilização. Ou seja, por semana, era prevista a montagem de 2.000 metros de grade, ou ainda 400 metros por dia. Abaixo, a composição do custo direto dessa empreitada:

ITEM

DESCRIÇÃO

UNID.

H/DIA

DIAS

H TOTAIS

C. HORA

C. TOTAL

1

ENCARREGADO

h

8

50

400

R$ 70,00

R$ 28.000,00

2

AJUDANTE

h

8

50

400

R$ 40,00

R$ 16.000,00

3

ESCAVADEIRA COM OPERADOR

h

8

50

400

R$ 340,00

R$ 136.000,00

4

CAMINHÃO MUNCK COM MOTORISTA

h

8

50

400

R$ 252,00

R$ 100.800,00

       

TOTAL

R$ 280.800,00

       

PRODUÇÃO EQUIP. (metro)

20.000,00

       

C. UNIT. POR METRO

R$14,04

Tabela 1 – Composição do Custo Direto

Conforme previsto, as atividades se iniciaram na estaca 0 e seguiram em sentido crescente. Ao longo das 6 primeiras semanas, as atividades foram executadas sem qualquer imprevisto, com áreas liberadas pela CONTRATANTE sem qualquer impedimento. No gráfico a seguir, são apresentados os dados de produção realizados ao longo das semanas pela equipe:

[1] Consulte Schwartzkopf, Calculating Lost Labor Productivity in Construction,

Ao final da semana 6 (30 dias úteis), foram realizados 11.800 metros de grade, com uma produtividade média de 393,33 metros por dia. Contudo, com o início da semana 6 e a chegada da equipe na estaca 12, verificou-se que a infraestrutura da área não estava finalizada, impossibilitando a montagem da grade no local. A Empresa A percebeu que em diversos outros trechos até a chegada na estaca 20, a infraestrutura estava inacabada. Como forma de evitar a ociosidade, a equipe foi realocada para as frentes conforme a finalização da infraestrutura pela CONTRATANTE. Essas liberações foram sendo realizadas de forma parcial e prejudicaram a sequência executiva prevista, que previa o ataque da estaca 0 até 20 de forma crescente e linear.

Com essa nova dinâmica de execução, com a quebra da sequência executiva, as obras foram finalizadas ao final da semana 13. Abaixo, o gráfico de produção até o fim das atividades.

Da semana 7 a 13 (35 dias), foram realizados 8.200 metros de grade, com uma produtividade média de 234,28 metros por dia. Observa-se então uma redução da produtividade entre o período da semana 1 a 6 e o período da semana 7 a 13.

CÁLCULO DA TAXA DE IMPRODUTIVIDADE

 

Para o caso em questão, onde a produtividade foi afetada em períodos diferentes, deve ser realizada uma observação temporal. No período não impactado, onde a CONTRATANTE entregou a infraestrutura conforme previsão contratual, a capacidade produtiva média da CONTRATADA foi de 393,33 metros por dia. Observa-se que a produtividade natural foi inferior à produtividade proposta pela CONTRATADA, que previa a execução de 400 metros por dia. No período impactado, compreendido entre a semana 7 e 13, a produtividade da Empresa A foi de 234,28 metros por dia. Abaixo, um gráfico comparativo entre as produtividades do período impactado e não impactado:

No período impactado, nota-se que a produtividade foi 59,56% da produtividade não impactada. Isso equivale a dizer que de um dia de trabalho, apenas 59,56% eram “aproveitados”. Os 40,44% não eram remunerados, ou seja, a taxa de improdutividade de cada dia de trabalho.

ITEM

DESCRIÇÃO

RASTREABILIDADE

VALOR

A

Produtividade Natural

A = 11.800 ÷ 30 dias (6 semanas)

393,33

B

Produtividade Impactada

B = 8.200 ÷ 35 dias (7 semanas)

234,28

C

Taxa de Improdutividade

C = 1 – (B ÷ A)

40,44%

 

CÁLCULO DO CUSTO ADICIONAL DEVIDO IMPRODUTIVIDADE

 

Definida a taxa de improdutividade, é necessário verificar o custo direto total incorrido pela CONTRATADA durante o período impactado, que iniciou na semana 7 e perdurou até a semana 13, ou seja, durante 35 dias. Consultando a tabela de composição de custo direto, é possível calcular o custo direto total incorrido:

ITEM

DESCRIÇÃO

UNID.

H/DIA

DIAS

H TOTAIS

C. HORA

C. TOTAL

1

ENCARREGADO

h

8

35

280

R$ 70,00

R$ 19.600,00

2

AJUDANTE

h

8

35

280

R$ 40,00

R$ 11.200,00

3

ESCAVADEIRA COM OPERADOR

h

8

35

280

R$ 340,00

R$ 95.200,00

4

CAMINHÃO MUNCK COM MOTORISTA

h

8

35

280

R$ 252,00

R$ 70.560,00

       

TOTAL

R$ 196.560,00

Gráfico 4 – Custo Direto Total Incorrido

No custo direto total (R$ 196.560,00), aplica-se a taxa de improdutividade de 40,44%.

ITEM

DESCRIÇÃO

UNID.

H/DIA

DIAS

H TOTAIS

C. HORA

C. TOTAL

1

ENCARREGADO

h

8

35

280

R$ 70,00

R$ 19.600,00

2

AJUDANTE

h

8

35

280

R$ 40,00

R$ 11.200,00

3

ESCAVADEIRA COM OPERADOR

h

8

35

280

R$ 340,00

R$ 95.200,00

4

CAMINHÃO MUNCK COM MOTORISTA

h

8

35

280

R$ 252,00

R$ 70.560,00

       

TOTAL

R$ 196.560,00

 

 

 

 

T. DE IMPRODUTIVIDADE

40,44%

 

 

 

 

CUSTO ADICIONAL

R$79.488,86

Gráfico 5 – Custo Adicional

Assim, o custo adicional incorrido pela CONTRATADA devido a fatores alheios à sua responsabilidade e imputáveis à CONTRATANTE, em razão da não liberação de frentes e à consequente quebra de sequência executiva, foi de R$ 79.488,86.

CONCLUSÃO

 

O exercício apresentado neste artigo ilustra de maneira clara como a quebra da sequência executiva, promovida pela CONTRATANTE, afetou significativamente a produtividade da CONTRATADA. O cálculo da taxa de improdutividade demonstra a utilidade prática da metodologia “Measured Mile” na avaliação de situações reais em contratos de engenharia.

Em resumo, a análise da improdutividade de recursos em contratos de engenharia desempenha um papel crucial para garantir a transparência e a justiça em situações em que ocorrem impactos não planejados. O uso do método “Measured Mile” oferece uma ferramenta valiosa para todas as partes envolvidas na avaliação e resolução de disputas contratuais, assegurando que os custos adicionais sejam atribuídos de maneira precisa e equitativa.

Para a aplicação eficaz dessa metodologia é fundamental que o executor do projeto mantenha registros bilaterais detalhados, possibilitando a identificação das produtividades reais ao longo da execução das atividades.

 

Autor:

Vagner Andrade – Especialista em Administração Contratual

 

 

 

Bibliografia:

Prática Recomendada nº 25R‐03 da AACE® International. COMO ESTIMAR PERDA DE PRODUTIVIDADE DE MÃO DE OBRA EM PLEITOS DE CONSTRUÇÃO. Disponível em: http://brasil-aacei.org/wp-content/uploads/2016/09/25R-03-Como-Estimar-Perda-de-Produtividade-em-Pleitos-de-Construcao.pdf

Change Orders Productivity Overtime. 2016 Edition. Disponível em: http://tiac.ca/wp-content/uploads/2017/09/I-Change-Orders-Productivity-Overtime-A-Primer-for-the-Construction-Industry.pdf